Em tempos como o de hoje, de time eliminado, de elenco contestado, de clube fragilizado…em tempos como o de hoje é mais importante do que nunca lembrar o porquê de termos escolhido o Vasco para torcer.
É claro que são nomes como Roberto Dinamite (O MAIOR DE TODOS), Edmundo, Romário, Juninho Pernambucano, Ademir, Barbosa, Alfredo II, Bellini, Jair Rosa Pinto, Vavá, Felipe, Geovani, Jorginho Carvoeiro e tantos e tantos outros ídolos que fazem qualquer vascaíno empunhar a cruz de malta com orgulho no peito.
Mas para chegarmos até esses, foi preciso que outros 16 jogadores criassem a identidade que marcaria a história do maior clube do mundo. Para que hoje, eu e tantos outros possam desfrutar do orgulho de ser Vasco, mesmo diante das dificuldades, foi preciso que Nelson, Mingote, Leitão, Arthur, Bolão, Nicolino, Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy, Negrito, Claudio, Adão, Nolasco, Pires e Russo furassem muito mais que as defesas adversárias. Eles deveriam driblar o ódio e o preconceito. E fizeram isso com maestria.
Sempre bom lembrar essa história e entender o contexto da época. Que sinceramente, parece ter mudado pouco, mas como um homem preto, mas também como um cidadão, vamos seguir lutando.
Em 1907, a Liga Metropolitana de Football (LMF) passou a se chamar Liga Metropolitana de Sports Athleticos (LMSA) e em seguida, ela publicou no jornal O Fluminense a seguinte determinação:
“Communico-vos que a directoria da Liga, em sessão de hoje, resolveu, por unanimidade de votos, que não sejam registrados, como amadores nesta Liga, as pessoas de côr. Para os fins convenientes ficou deliberado que a todos os clubs felliados se officiasse nesse sentido, afim que scientes dessa resolução, de accordo com ella possam proceder” – 22 de maio de 1907.
A LMSA foi dissolvida no final de 1907 e uma nova liga surgiu no ano seguinte sem uma proibição direta da participação de pretos e pobres, mas com evidente discriminação.
Em 1917, surgiu a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), e o estatuto apontava que pessoas analfabetas e que tivessem empregos que não fossem bem-vistos aos olhos daquela sociedade seriam impedidos de jogar como diz o trecho: “aquelles que exerçam profissões humilhantes que lhes permittam recebimento de gorgetas“.
Vale lembrar que no início do século 20, a maior parte da população brasileira era analfabeta, e esse índice é – até hoje – historicamente maior sobre a população preta.
O Vasco, até então era um clube de remo mas aderiu ao futebol em 1915 e no ano seguinte se filiou à LMDT para disputar a Terceira Divisão. Após um início ruim, o time foi encontrando seu caminho e deu oportunidades a vários jogadores oriundos de equipes pequenas e agremiações dos subúrbios, em sua maioria pobres, pretos e analfabetos.
E assim, de degrau em degrau, o Vasco foi dando forma ao gigante que iria se transformar. Em 1922, a equipe venceu a Série B da Primeira Divisão – no ano anterior, o campeonato havia sido dividido em dois- e um ano depois, em 1923, o clube foi campeão carioca pela primeira vez. Era o time dos Camisas Negras, o primeiro esquadrão de sua história.
Uma das missões mais nobres do Vasco da Gama é garantir que nossos valores de Respeito – Igualdade – Inclusão sejam transmitidos para as próximas gerações. E quando vejo meus filhos usarem com orgulho o nosso escudo, percebo que isso foi levado com a seriedade que o ato exige mas também com o direito ao amor que ele carrega.
Ser Vasco não é para todo mundo. Mas quem é, entende a natureza de se torcer para o clube com a história mais linda do futebol mundial. Que honra ser Vasco.
A Resposta Histórica
Em 7 de abril de 1924, na secretaria do clube, o presidente vascaíno José Augusto Prestes redigiu e assinou o Ofício n.º 261, a “Resposta Histórica“. O Vasco desistia de fazer parte da AMEA e ficaria com seus jogadores.
“Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Officio No 261
Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle,
D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.
As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.
Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.
Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever.
De V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.
(a) José Augusto Prestes
Presidente“
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