A obsessão nacional pelo futebol revela uma distorção de prioridades, onde a paixão por clubes como o Vasco muitas vezes ofusca crises sociais mais urgentes
Por Alvaro Tallarico
O futebol é mais do que um esporte no Brasil. Para milhões, é um fio de esperança. É onde o povo, tantas vezes esquecido, encontra identidade, voz, alegria e até consolo. Nas arquibancadas, nos campos de várzea, nos rádios ligados nas manhãs de domingo, está a alma de um país que aprendeu a transformar a bola nos pés em símbolo de resistência, sonho e pertencimento.
Ou seja, no Brasil, o futebol ocupa um lugar que ultrapassa o entretenimento. Ele domina manchetes, horários nobres, mesas de bar, políticas públicas e até prioridades pessoais. Para muitos, é religião. Mas é também vício coletivo. Uma paixão que, em muitos casos, consome mais do que alimenta.
É sintomático ver o quanto um clube como o Vasco da Gama, mergulhado há anos em crise administrativa, técnica e moral, ainda concentra tamanha atenção. A cada tropeço, revolta. A cada rebaixamento, luto. E não sem razão: o Vasco carrega uma história grandiosa. Mas até que ponto o sofrimento causado por um time de futebol deveria pesar tanto sobre um povo que já carrega tantas dores?

Enquanto hospitais colapsam, escolas públicas enfrentam abandono e o custo de vida sobe, a sociedade permanece anestesiada diante da bola rolando. Um gol redime fracassos, um título mascara a falta de políticas públicas, um jogador vira herói nacional enquanto professores e cientistas mal são lembrados. O futebol ocupa um espaço que deveria ser dividido com outras prioridades — e não é.
A decadência do Vasco é grave. Mas mais grave ainda é ver como ela fere emocionalmente milhões de pessoas que não têm a mesma reação ao ver seu bairro sem água, sua cidade sem cultura, ou seu país sem rumo. Há algo profundamente distorcido nisso.
O problema não é amar futebol. É fazer dele o centro de tudo. É aceitar que a paixão por um clube seja mais urgente do que a luta por uma vida digna. Quando um gol vale mais do que um livro, mais do que um prato de comida, mais do que dignidade, é sinal de que estamos perdendo o jogo mais importante: o da consciência.
Tantas coisas mais importantes, um país que tem tudo para todo mundo, mas cheio de desigualdade, com um abismo entre ricos e pobres. Vasco da Gama faz parte da minha vida, minha história, foi meu primeiro amigo. É um dos times mais tradicionais do país, que ajudou a democratizar o futebol e foi símbolo de inclusão, mas hoje agoniza entre gestões desastrosas, decisões duvidosas e afastamento da sua própria essência. Ficou a cara do Brasil.
Por isso hoje prefiro viajar, ler, crescer e deixar essa paixão de lado, com carinho. Te amo, Vasco, jamais te esquecerei. Porém, há mais no mundo.
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