Hoje, dia 07 de abril, faz 99 anos da Resposta Histórica, o ‘título’ mais importante do Clube de Regatas Vasco da Gama. A luta do clube contra o racismo vigente e ainda existente é, sem dúvida, o grande orgulho que permeia cada um dos vascaínos.
No entanto, se muitos dizem que sem ela não existira Pelé, podemos dizer que também não existiria Barbosa, o maior goleiro da história do Vasco e pilar do esquadrão Expresso da Vitória.
Também na data de hoje, no ano 2000, falecia o homem que seria o mais injustiçado da história do futebol mundial, mas que tinha em sua casa, o amor e o respeito que lhe faltaram por parte do restante do Brasil.
Ídolo incontestável do Vasco da Gama
Nascido em Campinas, o filho de Emídio Barbosa e Isaura Ferreira Barbosa tinha dez irmãos, e aos 14 anos, logo após a morte do pai e de dois irmãos, se mudou para a capital paulista para estudar e trabalhar. Morava com a família no bairro da Liberdade e trabalhou no Laboratório Paulista de Biologia.
Foi nesse momento de mudança que descobriu o amor da vida em Clotilde Melonio, uma paulistana que conheceu ainda jovem e com quem se casou em 1940. O matrimônio durou até 1997, quando ela morreu.
Antes de virar profissional, Barbosa atuou pelo time do laboratório em que trabalhava e nos campos da várzea encontrou sua verdadeira vocação na bola: de ponta-esquerda passou a ser goleiro.
Em 1941, resolveu jogar profissionalmente e dois anos depois foi negociado com o Vasco por sugestão de Domingos da Guia, então zagueiro do Corinthians e um dos maiores jogadores da história do nosso futebol, que teria afirmado que aquele era o “maior goleiro do Brasil“.
No Gigante da Colina, Barbosa foi para a reserva e teve de aguardar um tempo para jogar mas quando sua vez chegou – haviam seis em sua frente – não saiu mais e se tornou ídolo incontestável do clube.
Pelo Vasco, Barbosa conquistou 15 títulos, incluindo seis edições do Campeonato Carioca, um Torneio Rio-São Paulo e o mais importante: o Sul-Americano de Clubes em 1948, o precursor da Taça Libertadores e Liga dos Campeões da Europa. Nesse jogo final, disputado no Estádio Nacional, de Santiago, no Chile, enfrentou o Ríver Plate de Alfredo Di Stéfano.
A última partida foi contra o River Plate, que era o favorito. E o juiz deu uma garfada tremenda na gente. Anulou um gol, não nos deu um pênalti e marcou um pênalti para eles. Eu peguei e fomos campeões invictos.
Barbosa em entrevista à ESPN no ano 2000
Pagando por um crime que não cometeu
A brilhante carreira de Barbosa o levou à Seleção Brasileira. Com a camisa do Brasil venceu a Copa América de 1949 e disputou a Copa do Mundo de 1950 no país.
Apesar de espetaculares atuações, ficou marcado pelo gol que tomou do atacante Ghiggia na final contra o Uruguai, no dia 16 de julho com 174 mil espectadores no Maracanã.
Qual é a pena máxima no Brasil? Não são 30 anos? Pois eu já estou a mais de 40 anos cumprindo e ninguém esquece. Se eu fosse um criminoso vulgar, eu entenderia. Mas qual foi o meu crime? Qual foi o meu pecado?
Barbosa em entrevista no ano de 1993
Esse episódio marcou a forma como os brasileiros viam um goleiro preto e escancarou o racismo que existe no esporte. Pois se Barbosa foi tratado como vilão pelo gol tomado numa final dentro do Brasil, o que dizer então do goleiro branco Júlio César que tomou 7 dentro de casa na Copa de 2014? O tratamento, óbvio, não foi o mesmo.
Somente 16 anos após a perda do título em 1950 um goleiro preto voltou a ser titular na Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo quando Manga atuou contra Portugal, na despedida da fase de grupos em 1966, na Inglaterra. Mais 40 anos depois, Dida assumiu a camisa 1 em cinco jogos em 2006, na Alemanha.
Será que eu fui o culpado? Será que eu errei? Ao rever o lance dias depois da partida, achei que eu estava certo. Quer dizer, eu fiz certo e deu errado. Ghiggia fez errado e deu certo
Barbosa em entrevista no ano 2000
Legado eterno
Mesmo que ele tenha sido estigmatizado pelo Brasil, no Vasco, Barbosa encontrou o amor e o respeito dos seus fãs. Seu legado inspirou uma geração de goleiros no clube e fora dele e sua técnica e elasticidade o fazem um dos maiores do futebol mundial.
No Vasco da Gama, foram 431 jogos com 282 vitórias, 74 empates e 75 derrotas e é o maior ganhador de títulos da história do clube. Em 7 de abril de 2000, aos 79 anos, Barbosa morreu em Praia Grande, cidade do litoral de São Paulo, onde foi residir nos anos 1990. Deixou este mundo sem qualquer posse mas com o reconhecimento de toda uma apaixonada torcida, seu maior prêmio.
Mais do que perdão, o Brasil deve reconhecer a importância desse homem e homenageá-lo. O Barbosa é o nome da vitória. Ele simboliza a vitória do futebol brasileiro e do povo negro brasileiro. Ele não é a derrota. Se não fosse a derrota de 50, talvez não tivesse a Copa de 1958, ou seja, o Barbosa é a vitória do Brasil
Silvio de Almeida, Ministro dos Direitos Humanos
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