Neste último domingo foi o dia mais triste de todos os vascaínos. Sim, esqueça rebaixamentos, esqueça derrotas para rivais, finais perdidas…nada disso se compara com perder o Maior de Todos: nosso querido Roberto Dinamite.
Como todos sabem, nosso maior ídolo faleceu na manhã do último domingo (08) e a morte do Deus-Artilheiro foi ofuscada por terroristas no final da tarde. Não deu tempo de chorar tudo que deveríamos chorar por conta de idiotas, mas agora com tudo mais normalizado, é duro pensar nas palavras da coluna de hoje.
Primeiro porque não pude ver Roberto jogar em todo o seu esplendor. Minha primeira imagem dele é meio ofuscada porque ainda era muito pequeno, mas quando revejo imagens daquela matada no peito e o passe para Tita no Carioca de 1987, alguma memória guarda a sensação de ter visto algo diferente.
Mas em 1992, não. Ali eu virei o vascaíno que seria por toda a vida e como quase todos nós, devo isso a Roberto Dinamite.
Naquele ano, tínhamos perdido um campeonato brasileiro de bobeira mesmo com craques como Bismarck, Bebeto e um jovem Edmundo no time. Lembro da frustração até hoje de ter perdido para o urubulino com gols de Júnior e Nélio (putz!). Apesar disso, ainda entendia pouco a classificação dos jogos.
E lembrava que todo mundo falava de um ídolo chamado Roberto Dinamite que não estava naquele time. Mas eu conhecia pouco dele, somente as histórias. Por algum motivo, ele não estava no clube naquela época, então fui ler sobre em livros, jornais antigos e ouvir os mais velhos falarem do canhão da Colina.
Aparentemente, ele ainda estava por aí, em times pequenos como o Campo Grande ou na Seleção de Master do Vasco onde eu o vi pela primeira vez com consciência de torcedor. Ao final daquele Brasileiro, ele voltou pro time para disputar o Campeonato Carioca de 92 e ali sobrou um tempinho para ter a idolatria tardia, mas muito óbvia por qualquer um que coloque uma cruz de malta no peito.
E logo na segunda partida, eu vejo o que tanto falavam do homem: o chute potente. Na minha televisãozinha, eu vi Roberto Dinamite acertar um petardo de falta contra o América de Três Rios para ganharmos o jogo.
E foi aí que o vascaíno nasceu de vez, sem mais timidez, sem mais medo do ridículo. A partir daquele dia, daquela noite, na narração de Januário de Oliveira, eu era vascaíno de vez. Louco, são, doente, saudável, fanático, chamem como quiser, eu ia ver o Vasco campeão com o Dinamite.
Naquele campeonato, foram 8 gols marcados e muitas assistências. E por conta do Maracanã estar fechado para reformas naquele final de 92, a decisão da Taça Guanabara entre Vasco x framengo foi em São Januário. E eu estava lá.
Minha primeira vez em São Januário e eu ia ver o Roberto jogar, Mal sabia eu que seria a última vez que o veria ao vivo como jogador. Mas que jogador.
Se não tinha mais o faro artilheiro de outrora, não faltou intimidade com a bola. Eram matadas no peito, chutes de fora da área e passes açucarados para os atacantes mais jovens.
Em uma dessas jogadas que só quem entende do riscado sabe fazer, Luisinho Quintanilha cruza a bola e Roberto escora de cabeça para o gol do título feito por Carlos Alberto Dias.
Eu, com 10 anos, num São Januário tomado, pulando como se não existisse amanhã. Chorando, gritando e eu lembrando apenas que aquele camisa 10 com uma faixa colorida de capitão no braço era muito f*$@!!! “Era ele quem faltava no Brasileiro”, eu gritava.
Assistência de Roberto Dinamite para Carlos Alberto Dias (1992 – Vasco Campeão da Taça Guanabara)
Veio a Taça Rio e com ela, o último gol do ídolo. Lembro até hoje disso. Jogo à noite, contra o Goytacaz, uma pelada braba. Mas eu tava ali na televisão, assistindo o Januário de Oliveira cantar “EEEEEE O GOOOLLL…DE ROBERTO DINAMITE”
Depois daquilo, fomos seguros até o título invicto daquele Carioca, que naquela época ainda valia alguma coisa. Ainda mais para um menino de 10 anos que chorava porque quando começava a acompanhar futebol de verdade, seu Vasco perdia um campeonato brasileiro que estava na nossa mão.
E quem aplacou essa dor de menino? Ele, só podia ser ele: Roberto Dinamite, o grande condutor daquele time dar liga e faturar o título.
Depois disso, ele ainda iria se aposentar no Maracanã em um amistoso com o La Coruña e óbvio que eu vi o jogo e ainda fiquei revoltado do Bebeto ter marcado gol no Vasco. Crianças…
Logo após sua aposentadoria, foi então que tive um contato ao vivo com ele. Ele iria se candidatar a vereador pelo Rio de Janeiro e foi até meu bairro fazer campanha. Obviamente foi cercado por dezenas de pessoas e minha mãe se enfiou na multidão para tascar um beijão nele e eu fui junto para abraçar meu ídolo e ele autografar minha camisa.
Pronto, acabou, não tinha mais ninguém que fosse maior que ele. Lembro de brigar na escola porque eu dizia que ele jogava mais que o Zico e quando um garoto – duas vezes maior que eu -tentou rasgar minha camisa, peguei uma pedra e dei na cabeça dele.
Com ídolo não se brinca, nem caçoa. Obviamente, vivi o Vasco campeão de tudo e rezava para o dia que veria Dinamite me dando mais alegrias.
Em 2008, ele virou presidente e apesar do rebaixamento (culpa de gestões anteriores e todo mundo sabe disso), voltamos campeões e nessa época, já pai de dois meninos gêmeos, levei os garotos com seis anos no jogo da volta.
Com o título no jogo seguinte, vi, da arquibancada do Maracanã, ele de pertinho de novo e eu junto da torcida cantando: “AH, É DINAMITE!!”
Dessa vez, ele apareceu para nós segurando a taça do título da Série B. Dois anos depois, meus filhos eu vimos o título da Copa do Brasil na gestão dele.
Como dirigente, pra mim, seu maior erro foi confiar demais em quem faz política suja no clube há quase 100 anos. Foi abandonado por diversas pessoas e segurou sozinho o rebaixamento de 2013 e a volta em 2014 com um time fraco.
Cometeu erros? Não sei, provavelmente sim. Mas eu nunca vou falar mal dele. Porque ele é o Roberto Dinamite, simples assim. Não me interessa política nessa hora, é o Roberto Dinamite que, bem ou mal, nos deu o último título nacional e único na década passada.
Fora da presidência, a briga política ainda tentava manchar sua carreira o que é impossível se até Eurico Miranda se rendeu a ele em uma reunião no conselho.
Ainda em vida, essa discordância da torcida foi se dissipando e os vascaínos o homenagearam com uma digníssima estátua dentro de São Januário.
Agora Roberto se foi e um vazio toma conta de todos nós. Mas Dinamite não. Esse é eterno. O maior artilheiro do Campeonato Brasileiro, do Carioca, dos clássicos…Roberto Dinamite tem seu nome gravado nos panteões do futebol desse país.
Mas no meu coração, naquele pequeno coração de um vascaíno de 10 anos, ele não somente o nome. Ele deixou um pedaço da alma.
E por ele, nosso Vasco voltará a ser o que sempre foi: o Maior de Todos! Obrigado por tudo, Roberto.
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