Cadu Costa
A situação financeira da 777 Partners, empresa que adquiriu 70% do futebol do Vasco, está cada vez mais preocupante.
Um balanço financeiro, anteriormente mantido sob sigilo nos Estados Unidos a pedido da empresa, foi divulgado recentemente e revelou um quadro de insolvência da holding antes mesmo da compra da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) cruzmaltina.
O que aconteceu
O balanço financeiro, datado de setembro de 2022, refere-se ao processo da empresa Change Lending, que corre em Nova York. A companhia fez um empréstimo para a 777 via ações preferenciais, com a condição de recompra caso determinadas condições não fossem cumpridas, o que de fato não ocorreu devido à falta de liquidez.
O juiz estadunidense decidiu tornar o balanço público, expondo que os passivos da 777 eram maiores que os ativos. Especificamente, havia uma diferença de dívidas de US$ 8,9 bilhões contra US$ 8,8 bilhões no caixa, indicando insolvência.
O documento também revela um prejuízo de US$ 589 milhões, equivalente a R$ 3,1 bilhões. O jornalista Tiago Leifert e o portal UOL divulgaram inicialmente essas informações.
Segundo Felipe Carregal Sztajnbok, vice-jurídico do Vasco, a 777 tentou manter o documento em sigilo para ocultar seu patrimônio líquido negativo e o prejuízo significativo, que já indicavam uma situação financeira delicada antes da aquisição da SAF do CRVG.
Questionamentos sobre a diligência
A diretoria do Vasco também questiona a diligência feita pela gestão anterior, liderada pelo então presidente Jorge Salgado, que contratou a auditoria da KPMG.
Salgado defendeu suas ações em um comunicado recente, afirmando que equilibrar transparência e confidencialidade em uma operação dessa magnitude é desafiador.
No entanto, conselheiros e torcedores criticam a falta de transparência no negócio.
“Reconheço que é um desafio enorme equilibrar transparência e confidencialidade quando se trata de uma operação dessa natureza num grande clube de futebol, ainda mais no contexto de mudança cultural promovida pela Lei da SAF. Quando, por exemplo, a Petrobras vende uma refinaria, o mercado só fica sabendo depois de concluído o negócio. Já no mercado do futebol, essas premissas negociais não são tão bem compreendidas.”
Jorge Salgado
Ações judiciais e possíveis desdobramentos
O departamento jurídico do Vasco está estudando ingressar com uma ação indenizatória contra a 777. Caso o clube saia vitorioso, isso pode resultar na perda dos 31% que a empresa adquiriu da SAF.
Enquanto o processo corre, uma arbitragem jurídica deverá ocorrer entre as partes, com a Câmara FGV de Mediação e Arbitragem sendo o fórum escolhido.
A arbitragem pode demorar entre um ano e meio e dois anos para ser finalizada. Cada parte indicará um árbitro, e a tramitação só começará após a Câmara Arbitral ser instalada.
Existe a possibilidade de reduzir o prazo caso apareça um comprador para a parte da 777, o que poderia ser decidido dentro do processo de arbitragem.
Situação atual da Vasco SAF
O Vasco retomou o controle da SAF após obter uma liminar na Justiça brasileira. Lucio Barbosa e Kátia dos Santos, CEO e CFO da SAF, respectivamente, entregaram seus cargos, o que foi visto com estranheza pelo presidente do Vasco, Pedrinho:
“Que fique claro que foi uma decisão pessoal. Para estar no Vasco, tem de querer estar no Vasco. Na minha gestão, só vai estar no Vasco quem quer sentir o Vasco na essência.”
A nova administração do clube acionou a arbitragem, alegando que a 777 enfrenta processos por fraude nos Estados Unidos e não vem honrando compromissos financeiros, colocando o Vasco em uma situação temerária.
A Justiça do Rio de Janeiro transferiu o controle da SAF para o Vasco, e a empresa recorreu, mas não conseguiu reverter a decisão. Com o caso na arbitragem, a Justiça comum dificilmente dará continuidade à ação, não sendo o fórum competente para tal.
O conflito entre Vasco e 777 Partners pelo controle da SAF deve continuar por um bom tempo, com muitos desdobramentos ainda por vir.
A expectativa é que uma solução mais rápida possa surgir com a venda da parte da 777, beneficiando ambas as partes e trazendo estabilidade financeira ao clube.
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